Como a maioria de nós sabe, por causa da pandemia global Covid-19, as ofertas mundiais tiveram uma queda de mais de 20% (em algumas Divisões, a redução chega a 50%), conforme observado na queda das ofertas para missões, enquanto as entradas referentes aos dízimos estão mais ou menos no nível esperado.

O que esse fato indica? Posto que a renda do dízimo é relativamente estável, podemos corretamente supor que não houve uma diminuição significativa na renda geral do povo de Deus. Como podemos, então, explicar o declínio nas ofertas durante o mesmo período? Esse fato deve nos levar a refletir sobre algumas possibilidades:

  1. Não estamos ensinando que as ofertas são tão importantes quanto o dízimo. Se o confinamento imposto pela pandemia não impediu os membros da igreja de devolverem o dízimo, por que nem todos os membros deram suas ofertas? Talvez uma proporção significativa dos membros da igreja ainda não considere que as ofertas têm o mesmo nível de importância que o dízimo, embora a Bíblia e o Espírito de Profecia não ensinem isso. Nossas principais publicações (guias de estudos bíblicos, por exemplo), ao abordar o assunto de dízimos e ofertas, geralmente enfatizam apenas o dízimo como sagrado e obrigatório, embora a Bíblia aplique a designação de “santo” a ambos.[1]

No livro bíblico de Malaquias, está claro que Deus espera que devolvamos tanto os dízimos quanto as ofertas (ver Ml 3:8-10). Ellen G. White também esclarece que “Essa questão de dar não é deixada ao impulso. Deus nos deu instrução a esse respeito. Especificou os dízimos e ofertas como sendo a medida de nossa obrigação. E Ele deseja que demos regular e sistematicamente”.[2]

Sugestão: Fornecer educação contínua sobre o caráter sagrado das ofertas e a natureza obrigatória das ofertas regulares e sistemáticas, às quais chamamos de “Promessa”.[3]

  1. Há uma falta de instruções sobre doações regulares e sistemáticas, bem como uma ênfase mais acentuada nas doações para projetos/ofertas especiais. Um grande número de membros parece motivado a dar ofertas apenas como resposta a promoções ou a apelos em prol de projetos. Nesse sentido, o “destino” das ofertas tornou-se muito mais importante do que a “motivação” para doá-las, que deveria ser a adoração a Deus como doador e provedor. Embora enfatizem demais a doação para projetos, em detrimento da doação regular e sistemática como um ato de adoração, os líderes podem estar inadvertidamente substituindo a Deus por projetos destinatários das ofertas, levando os adoradores a se tornarem apenas doadores. Devemos dar ofertas regulares e sistemáticas não porque a igreja ou a missão precisem delas, mas principalmente porque queremos adorar a Deus com a nossa gratidão, reconhecendo a Sua dádiva, sempre que tenhamos renda. Ele deve ser honrado como o beneficiário das nossas ofertas.

Sugestão: Educar continuamente sobre a doação regular e sistemática (Promessa). Ensinar que o ato de doar deve ser provocado por uma grata percepção das bênçãos já recebidas e como um ato de adoração, ao invés de ser provocado por apelos ou promoções de projetos, por melhores ou necessários que sejam.

Coerente com essa abordagem, qualquer apelo por ofertas especiais (ofertas ocasionais ou esporádicas para projetos, ministérios, etc.) deve sempre ser seguido pela sugestão de doar esse tipo de oferta apenas em complemento – ou além – da Promessa (doação regular e sistemática). Por sua importância, essa sugestão foi votada pela Reunião de Primavera de 2002 como parte do plano de ofertas sugerido pela Conferência Geral.[4]

Se os conceitos acima forem implementados, a receita das ofertas provavelmente manterá um padrão de crescimento semelhante ao da receita do dízimo mesmo na eventualidade de um confinamento (com oportunidades limitadas para apelos públicos, ou promoção de projetos). Assim, os membros não doariam como resposta a uma necessidade circunstancial da igreja, mas em resposta à dádiva de Deus. Falando sobre isso, Ellen G. White diz: “Os seguidores de Cristo não devem esperar por apelos missionáriosemocionantes para despertá-los à ação. Se espiritualmente despertos, ouviriam na renda de cada semana, seja muito ou pouca, a voz de Deus e da consciência com autoridade exigindo os dízimos e ofertas devidas ao Senhor”.[5]

Dica: Apresentar, como ferramenta educacional, os vídeos da série “Provai e Vede”[6] em sua igreja todos os sábados antes da coleta de ofertas.

  1. Existe uma crença equivocada de que as ofertas devem ser dadas apenas como resposta a sentimentos bons do coração. Uma parte significativa dos membros da igreja pode ainda não entender a gratidão como um princípio ou conceito que implica muito mais do que simplesmente um bom sentimento. Ellen G. White diz, por exemplo, em Testemunhos para as Igrejas, volume 1, que “Deus deve ser servido por princípio e não por sentimentos”.[7] No parágrafo seguinte, ela acrescenta que não devemos “confundir fé com sentimento. Eles são diferentes entre si. Cabe-nos exercitar fé”, diz ela; e finaliza: “Os sentimentos nada têm a ver com a fé”.[8]

Portanto, a gratidão deve ser demonstrada por um ato de fé na Palavra de Deus, enraizada em princípios e não necessariamente em sentimentos ou impressões místicas. A mensageira de Deus também diz que, por causa do egoísmo natural do coração, “não é seguro ser dominado pelos sentimentos ou pelos impulsos”.[9] Ela então acrescenta que, porque esse egoísmo natural é tão forte, “Dar ou trabalhar quando são despertadas as nossas simpatias, e reter nossas dádivas ou serviço quando as emoções não são estimuladas, é rumo inseguro e perigoso”. Por isso é que “Devem os cristãos agir guiados por princípios fixos, seguindo o exemplo de abnegação e de sacrifício-próprio do Salvador”.[10] Isso significa, então, que devo dar não porque “sinto algo bom”, mas porque “acabo de receber algo bom” (um salário ou aumento).

Sugestão: Ensinar a diferença entre as ofertas esporádicas, ocasionais ou especiais e as ofertas regulares e sistemáticas (Promessa), que são ocasionadas pela renda e doadas sempre que há uma receita. As ofertas esporádicas/especiais também têm o seu lugar, mas como uma “segunda milha”, isto é, além da Promessa.

  1. Há uma falta de instruções sobre doar uma proporção da renda como oferta regular (Promessa). Talvez muitos dos nossos membros ainda não tenham sido ensinados a desenvolver o hábito de dar ofertas equivalentes a uma porcentagem previamente prometida da sua renda, calculando-a logo depois de calcularem o dízimo e entregando os dois ao mesmo tempo. Depois de declarar que dízimos e ofertas são a medida da nossa obrigação (sim, esta é a palavra que ela usa), Ellen G. White diz que cada um deve examinar “suas rendas com regularidade. [...] Depois de ser o dízimo posto à parte, sejam as dádivas e ofertas proporcionais: ‘segundo a sua prosperidade’”.[11]

Sugestão: Realizar regularmente cerimônias de renovação de votos, usando um cartão de compromisso[12]; ao mesmo tempo, ensinar o conceito de Promessa. O próximo passo será levar os membros a um propósito (ver 2Co 9:7) ou a fazer a promessa[13] de que uma porcentagem da sua renda será regularmente devolvida a Deus como ofertas regulares e sistemáticas.

  1. Sugerir que os membros mantenham todas as suas ofertas na igreja local. Talvez alguns líderes da igreja local temam não terem como pagar as despesas da igreja local. Assim, alheios ao Princípio da Influência do Reflexo,[14] eles acreditam ser vantajoso incentivar os membros a manterem todas as suas ofertas na igreja local, desconsiderando, de uma maneira egoísta, todas as necessidades missionárias regionais e internacionais, a maioria delas não coberta pelo fundo de dízimo. Esse comportamento ignora o quão prejudicial é esse desvio egoísta, não somente para as finanças das missões internacionais, como também para a saúde espiritual da igreja local. Como disse Randy Alcorn, “uma maneira pela qual os líderes da igreja podem inspirar doações é comprometendo a igreja a doar uma porcentagem maior da sua própria renda [da igreja]”.[15] “Deem e lhes será dado” (Lc 6:38), disse Jesus.

Sugestão: Promover o Princípio da Influência Reflexa entre os pastores e líderes da igreja; explicar aos membros da igreja como a obra missionária da igreja mundial depende das ofertas; indicar aos membros da igreja como eles podem contribuir também para a obra missionária regional e internacional, além de apoiar a igreja local (nome do fundo de ofertas mostrado no envelope, etc.). Talvez muitos mais gostariam de contribuir, se soubessem como fazê-lo.

Lembrete: O Plano de Ofertas Combinadas recomenda uma distribuição equitativa dos fundos da oferta: 50-60% são direcionados ao orçamento da igreja local; 20-30%, para projetos missionários regionais; e 20%, para o fundo da Missão Mundial. Todo o dinheiro enviado para as organizações superiores voltará para os campos locais como subsídios para projetos missionários e para as instituições.

Instruir os membros quanto à Promessa (oferta regular e sistemática) talvez seja a iniciativa mais importante para promover uma receita estável de ofertas. Mas é fundamental que nos lembremos de que isso só prosperará em um determinado distrito se os oficiais, os diretores de departamento, os pastores e os demais obreiros também viverem e promoverem esse conceito de maneira proativa. (Isso também é verdade no que diz respeito à igreja local.) A propósito, você já é um “Prometedor”? Você já fez o propósito de doar regularmente uma porcentagem da sua renda como oferta, assim como são regulares as bênçãos de Deus?

De maneira clara, Ellen G. White iguala ofertas regulares e sistemáticas ao dízimo, em termos de importância e de obrigação. Ambos são igualmente esperados por Deus; ambos levarão o Seu povo a desenvolver um relacionamento de fé, reconhecendo a Deus, com gratidão, como a fonte de sua renda. Isso aumentará sua confiança no Senhor e os preparará para fazer exatamente o que devem fazer no tempo do fim: “Bem no fim, antes que esta obra termine, milhares de dólares serão alegremente depositados sobre o altar. Homens e mulheres sentirão ser um bendito privilégio participar da obra de preparar pessoas para subsistirem no grande dia de Deus, e darão centenas de dólares com a mesma liberalidade com que agora são doadas quantias menores”.[16]

Deus está nos chamando para preparar um povo para esta ocasião, e talvez não tenhamos uma segunda oportunidade. Este é o momento!


[1] Algumas ofertas chegam a ser consideradas como “santíssimas” (ver Lv 6:25; 7:1). Outras são declaradas “sagradas” (Lv 22:10). Ver Barbe, A. (Julho 2020), “Offerings: Holy to the Lord”, Dynamic Steward, v. 24 (3), p. 2.

[2] Ellen G. White, Conselhos Sobre Mordomia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 50.

[3] Para mais informações sobre “Promessa”, ver: https://stewardship.adventist.org/promise-offering...

[4] Ver Faiock Bomfim, M. (Outubro 2019), “Combined to Grow: Reasons for the ‘New’ Offering Plan”, Dynamic Steward, v. 22, (4), p. 17-19.

[5] Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 4 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 474.

[6] Acessar https://stewardship.adventist.org/tithe-and-offerings-readings. Opções em diferentes idiomas disponíveis.

[7] White, Testemunhos para a Igreja, v. 1, p.167

[8] Ibid

[9] White, Conselhos Sobre Mordomia, p. 15.

[10] White, Conselhos Sobre Mordomia, p. 16.

[11] White, Conselhos Sobre Mordomia, p. 50.

[12] Para opções quanto ao Cartão de Compromisso, ver: https://stewardship.adventist.org/commitment-card-...;

[13] Sobre promessas quanto a ofertas regulares e sistemáticas, ver: Faiock Bomfim, M. (Julho, 2020). Why and How to Vow Regarding Offerings. Dynamic Steward, v. 24 (3), p. 21-23.

[14] Esse princípio é apresentado por Ellen G. White em Obreiros Evangélicos, p. 465: “Mostrar um espírito liberal, abnegado para com o êxito das missões estrangeiras, é um meio seguro de fazer avançar a obra missionária na pátria; pois a prosperidade da obra nacional depende grandemente, abaixo de Deus, da influência reflexa da obra evangélica feita nos países afastados” (ênfase acrescentada).

[15]Randy Alcorn, How Pastors Can Model and Teach What God’s Word Says About Financial Stewardship. https://churchleaders.com/pastors/pastor-articles/318360-pastors-can-model-teach-gods-word-says-financial-stewardship-randy-alcorn.html?utm_source=outreach-cl-daily-nl&utm_medium=email&utm_content=text-link&utm_campaign=cl-daily-nl&maropost_id=&mpweb=256-5780859-713116051. Acesso em: 24 fev. 2021.

[16] Ellen G. White, Conselhos Sobre Mordomia, p. 24.

PULL QUOTES

Qualquer apelo por ofertas especiais (ofertas ocasionais ou esporádicas para projetos, ministérios, etc.) deve sempre ser seguido pela sugestão de doar esse tipo de oferta apenas em adição ou além da Promessa (doação regular e sistemática).

“Depois de ser o dízimo posto à parte, sejam as dádivas e ofertas proporcionais: ‘segundo a sua prosperidade’” (Ellen G. White).

Instruir os membros quanto à Promessa (oferta regular e sistemática) é talvez a iniciativa mais importante para promover uma receita estável de ofertas.

Marcos Bomfim