Como o Dízimo é Usado?

Ao longo dos meus anos como administrador da igreja, sempre me fizeram a seguinte pergunta (embora em uma variedade de contextos e idiomas): “Se tudo o que a igreja faz é para a missão, por que todas as iniciativas da igreja não podem ser financiadas pelos dízimos?” Na verdade, esse sentimento provavelmente tem sido expressado desde que a igreja adotou o importante princípio do dízimo.

Essa excelente pergunta exige uma resposta completa, justa e consistente — uma resposta que só pode ser fornecida pelas Políticas de Trabalho da AG. Mas antes de examinar as normas, será útil revisar o contexto em que a nossa política atual foi desenvolvida.

Contexto

Em outubro de 2004, o Comitê Executivo da Associação Geral observou que “é útil e, às vezes, necessário para uma igreja mundial em rápido crescimento revisar periodicamente o uso que faz do dízimo”. Em resposta a essa observação, o Comitê aprovou uma ação que estabeleceu a “Comissão de Estudo do Uso do Dízimo” que teria uma “representação mundial de base ampla”. Os termos de referência para a comissão compreendiam os seguintes três pontos:

  1. “Revisar e analisar as práticas e políticas atuais sobre o uso do dízimo e identificar os desafios decorrentes dessas práticas e políticas.
  2. Reestudar e pesquisar os materiais bíblicos e do Espírito de Profecia sobre o uso do dízimo, incluindo uma revisão de documentos e materiais anteriores sobre o uso do dízimo.
  3. Com base nos pontos 1 e 2 acima, fazer recomendações para quaisquer mudanças nas normas e diretrizes sobre o uso do dízimo” (“Ata do Conselho Anual da AG”, 12 de outubro de 2004).Os 50 membros da comissão eram representados pela Associação Geral (5), teólogos/historiadores da igreja (7), divisões (18), uniões (4), associações (12) e instituições (4). Os membros incluíam presidentes e tesoureiros das entidades, bem como pastores.O trabalho dessa comissão se estendeu de 2005 até o Concílio Anual da Associação Geral de 2012. Naquele momento ficou decidido que não fosse criado um relatório escrito final, mas sim que a comissão apresentasse seu trabalho na forma de mudanças recomendadas e na expansão da Seção V da Política de Trabalho do GC. As mudanças recomendadas foram aprovadas pelo Comitê Executivo da AG.

Política Trabalhista da AG

Embora o trabalho da comissão tenha sido expresso na forma de política oficial de trabalho (resultando em um certo nível de formalidade típico de uma política), é claro que a natureza sagrada do dízimo foi mantida, enquanto um nível de pragmatismo e consistência foi adicionado o qual pode não ter sido evidenciado anteriormente. Sob a orientação do Espírito Santo, a participação de um grupo experiente teve excelentes resultados.

Essa parte da política de trabalho tem apenas 19 páginas e é uma leitura altamente recomendada não somente para todos os administradores da igreja como também para os membros que procuram informações sobre como o dízimo é tratado pela igreja depois que é devolvido ao Senhor por meio da sacola de oferta ou através de um aplicativo de doação online.

Seção V 04: O Dízimo

Essa seção introdutória da política descreve brevemente a “natureza do dízimo” como “santo para o Senhor”, sendo “uma ordenança permanente”, representando “uma aliança com Deus” e pertencente a Deus, embora seja confiado à igreja para uso.

Também aborda o propósito do dízimo, seu papel na igreja, o conceito de “Casa do tesouro” e as respectivas responsabilidades do membro da igreja, da igreja local e da organização da igreja na maneira de lidar com o dízimo.

Seção V 09: Compartindo Recursos Financeiros

A principal fonte de financiamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia é o dízimo. Com isso em mente, junto com nosso forte foco na pregação do evangelho a todas as pessoas ao redor do mundo, há muito se reconhece que a receita do dízimo será maior em alguns locais do que em outros. Isso é causado pela idade relativa da igreja em várias regiões, o número de membros que vivem nesses lugares, bem como a força relativa das economias locais.

Portanto, já no início da nossa existência, a igreja instituiu um sistema de compartilhamento do dízimo entre os vários níveis organizacionais da igreja, bem como ao redor do mundo. O conceito de compartilhamento do dízimo é normalmente impulsionado pela remessa de porcentagens pactuadas do dízimo recebido em cada nível da organização. O dízimo assim distribuído para “organizações superiores” torna-se uma fonte de fundos os quais são usados, em parte, para financiar verbas para certas regiões ou ao redor do mundo, conforme necessário. É dessa maneira que o dízimo é usado para promover a missão da igreja em todo o mundo.

Seção V 14: O Uso do Dízimo

Conforme observado no título desta seção, é aqui que o uso apropriado do dízimo é apresentado. Com base em perguntas feitas com frequência, sabemos que também existem vários usos inapropriados para o dízimo

Embora reconheça que “todos os membros são parte integrante do ministério da igreja”, a política aponta rapidamente que o uso principal do dízimo é para “ministros do evangelho, pastores cuja principal função é estar envolvidos e promover o desenvolvimento do ministério espiritual da Palavra”.

A política passa então a fornecer uma lista das categorias gerais de despesas que estão incluídas sob o guarda-chuva do “Ministério Evangélico”. São eles:

  1. Pastores, Evangelistas, Ministros. Este deve ser o principal uso do dízimo.
  2. Apoio para a Conquista de Almas. Isso inclui a “liderança administrativa, departamentais e suas equipes em cada nível da organização da igreja”. (Assim como os levitas apoiavam os sacerdotes em seu ministério.) Tal apoio também inclui as “despesas operacionais das associações/missões/campos, uniões, divisões e sede da Associação Geral”.
  3. Colportores Evangelistas. O principal sustento dos nossos colportores evangelistas devem ser suas vendas, mas um fundo centralizado de benefícios poderá ser complementado com o dízimo, se necessário.
  4. Atividades Evangelísticas. Subsídios operacionais podem ser fornecidos a partir do dízimo para atividades evangelísticas como acampamentos de jovens e reuniões campais.
  5. Equipamentos para o Evangelismo. O dízimo pode ser usado para a aquisição de uma ampla variedade de equipamentos usados para levar a voz do ministro no evangelismo, seja em um auditório ou via rádio ou satélite.
  6. Serviços de Auditoria e seus Custos. Por se tratar de uma prestação de contas e de mordomia do dízimo, é permitido que o custo gerado por auditorias financeiras de entidades eclesiásticas seja bancado pelo dízimo.
  7. Professores de Bíblia/Religião e Pessoal de Apoio Espiritual nas Escolas. O custo de certos funcionários da área educacional e algumas porcentagens específicas de certos orçamentos estão incluídos nos vários níveis de entidades educacionais adventistas, desde escolas primárias até faculdades e universidades.
  8. Custos de aposentadoria. O custo que implica fornecer renda para os nossos funcionários aposentados é financiado por diferentes métodos em todo o mundo. No entanto, é permitido que essa remuneração seja financiada pelo dízimo.
  9. Moradia para funcionários. Este custo era uma área de inconsistência percebida antes da adoção da nova política em 2012. A organização da igreja atende às necessidades de moradia de seus funcionários por diferentes meios em todo o mundo. Às vezes, isso é feito como um componente do próprio salário/vencimento, mas, em certos casos, esse custo é bancado por meio de um auxílio-moradia separado, do aluguel de uma residência ou da compra de uma casa para uso do empregado. Reconhece-se que, para fins de consistência, cada um desses métodos pode usar o dízimo como fonte de financiamento.

O uso inapropriado do dízimo inclui a aquisição de prédios, a compra de equipamentos não usados para evangelismo, despesas operacionais da igreja local e despesas operacionais da escola.

Responsabilidade

Seção V 20: Responsabilidade pelo Uso do Dízimo

A seção V 20 parece ser objeto do mais alto nível de ceticismo inicial dos administradores da igreja, mas, ao contrário, é percebida com uma atitude mais simpática de parte dos membros da igreja. Acho essa seção da política muito positiva quando compreendida no contexto adequado.

Em sua essência, a responsabilidade necessária cria espaço para liberdade e flexibilidade, em vez de ser prescritiva e exigente. Precisamos de mais políticas escritas dessa maneira!

Liberdade. Essa política evitou intencionalmente o estabelecimento de conceitos prescritos os quais limitariam os gastos em uma determinada categoria, ao mesmo tempo em que evitariam a exigência de valores mínimos para serem gastos nessas mesmas categorias.

O princípio fundamental foi que a comissão executiva de cada entidade se encontra na melhor posição para ser guiada pelo Espírito Santo no que diz respeito à maneira como o ministério será levado adiante em seu território. Em outras palavras, o comitê executivo deve ter a liberdade de contextualizar as amplas iniciativas e programas missionários da igreja. Mas, ao mesmo tempo, essa liberdade significa prestar contas, por meio de relatórios precisos e oportunos, ao comitê executivo (além dos seus membros/constituintes e a organização “superior”) quanto ao uso real do dízimo. Flexibilidade. Além disso, ao listar as categorias específicas de despesas que devem ser relatadas, a política também permitiu, intencionalmente, ampla liberdade para os administradores em termos de como os dados seriam apresentados e comunicados às suas várias partes interessadas.

Transparência. A lista de categorias exigidas é, na verdade, um recurso libertador, pois coloca os dados de cada entidade em um contexto onde comparações/contrastes significativos podem ser feitos entre organizações irmãs. Assim, as comissões e os administradores podem trabalhar juntos para identificar grupos de comparação significativos de tamanho semelhante em termos de membros, número de pastores, quantidade de dízimos, etc. Esses grupos de comparação podem ser valiosos em termos de estabelecimento de metas ou simplesmente como iniciadores de discussão.

Responsabilidade. O nível mais alto de responsabilidade neste contexto está no relacionamento da liderança da organização com o seu comitê executivo. É nessas reuniões que o diálogo construtivo pode levar a estratégias integradas e, finalmente, resultar em metas e objetivos que, quando alcançados, resultarão no melhor uso do recurso sagrado do dízimo dentro do contexto aplicável.

Conclusão

Concluindo, acredito firmemente que a Seção V da Política de Trabalho do AG dá um exemplo de como essas normas podem ser uma excelente ferramenta para as organizações e seus comitês executivos, pois elas criam estratégias para traçar o curso da tarefa que está diante deles. A Seção V estabelece um padrão elevado ao colocar a política em condição de estabelecer uma base a partir da qual a organização pode crescer, em vez de ser excessivamente uniforme e restritiva.

Por fim, a política de “Uso do Dízimo” cria um ambiente de:

  1. Eficiência para a missão, ajudando a assegurar que o valor dos dízimos trazidos seja recebido;
  2. Eficácia para a Missão, fornecendo dados para as estratégias e prioridades estabelecidas pelos comitês executivos e para a tomada de decisão pela liderança; e
  3. Unidade para a missão, por meio da criação de metas compartilhadas no contexto de conversações proativas entre a liderança, os comitês executivos e os constituintes.

Tudo para o cumprimento da missão que nos foi confiada por nosso Senhor e Salvador!

Ray Wahlen

Ray Wahlen é o subtesoureiro da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Ele também é um Contador Público Certificado licenciado no Estado de Maryland e um Chartered Global Management Accountant.