UM PACOTEINSEPARÁVEL

Dar e Adorar

Vivemos numa época onde muitos adoram o dinheiro. É sua última fonte de segurança, identidade e propósito na vida. No entanto, nesta mesma época, Deus convida seu povo a adorá-lo com seu dinheiro. Isso significa que, como seguidores de Cristo, não somos chamados a adorar a Deus apenas com nossos lábios através dos cantos, da oração e da pregação. Somos chamados a adorar a Deus através de bens materiais também. Dar não é uma opção para o adorador. Porque dízimos e ofertas são elementos essenciais do culto a Deus. Ellen White resume o princípio básico da doação cristã na adoração corporativa, da seguinte maneira:

“Pertencemos a Deus; somos Seus filhos e filhas - Seus pela criação e Seus pelo dom de Seu Filho unigênito, para a nossa redenção. “Não sois de vós mesmos... fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Cor. 6:19 e 20. A mente, o coração, a vontade, e as afeições pertencem a Deus; do Senhor é o dinheiro que manuseamos. Todo bem que recebemos e desfrutamos resulta da benevolência divina. Deus é o liberal doador de todo bem, e deseja que, da parte de quem recebe, haja reconhecimento dessas dádivas que proveem todas as necessidades do corpo e da alma1

Por que devemos adorar a Deus com nossos dons? Para que finalidade nós damos nossos dízimos e ofertas? O que nós expressamos através desses dons? Vamos considerar ligeiramente o incentivo, propósito e a teologia por trás do ato de dar noculto corporativo com referência especial aos escritos de Ellen White.

Incentivo

O que nos motiva a dar no culto divino? O que tem a ver nossos relacionamento com Deus que resulta em trazermos nossos bens monetários a ele cada sábado? Primeiro, nossa doação é uma resposta ao sentimento do coração pela graça de Deus para conosco. Como adoradores somos constantemente lembrados de que não damos meramente para sustentar a organização da igreja. A doação crista não deve ser vista simplesmente como uma resposta às necessidades financeiras da igreja, mas como uma expressão de adoração ao criador pelo seu cuidado providencial. Dar é fundamentalmente uma expressão de nosso amor e louvor a Deus pela sua incrível graça. Através de nossos dízimos e ofertas, nós expressamos sua soberania indisputável sobre nossa vida. Através de nossas ofertas voluntárias nós expressamos nosso amor por aquele que primeiro nos amou. Segundo, doando nós reconhecemos Deus como o doador e perdoador. Deus é o autor “de todo bem e dom perfeito” (Tiago 1:17, NVKJ), e “dá a todos liberalmente e sem lançar em rosto” (vs. 5). Declarar a Deus como doador é considerar seu supremo dom, Jesus Cristo, que em troca desafia seus seguidores a dar livremente porque também receberam livremente. (Mat. 10:8). Deus também é o Perdoador. Em Cristo, Deus prove à humanidade sua única fonte de perdão e reconciliação. Isso quer dizer que dar não pode ser visto como uma maneira de manipular a Deus através da qual nós podemos trocar dinheiro pelas suas bênçãos. O ato de doar, como qualquer outra parte da adoração Adventista é motivado pela própria autodoação de Deus. O supremo dom de Deus é o maior incentivo para doarmos. Doando, nós demonstramos tangivelmente que fomos agarrados pela graça maravilhosa de Deus e que nós pertencemos a ele como seus filhos redimidos.

Terceiro, dar é uma resposta às bênçãos de Deus. Dar é um testemunho eficiente de que Deus é a fonte de toda bênção. Os dízimos e ofertas são dados durante o culto na igreja como uma afirmação autoritária que Deus têm continuamente abençoado seu povo. Nós damos em apreço à bondade de Deus e em gratidão pelas suas abundantes bênçãos. Dando, nós reconhecemos que “o grande e infinito Deus não vive para si mesmo, mas para beneficiar e abençoar cada ser e cada objeto de sua criação2”. Deus constantemente dá e nos convida também para corresponder doando. Em um artigo escrito em 1881, Ellen White introduz este ponto com ironia: Quando nosso benfeitor celestial se esquece de atender nossas necessidades, quando se esquece de ser gracioso, e nenhum de seus dons flui para nossos depósitos, nossos graneleiros, e nossos celeiros – então podemos defender uma desculpa para retermos nossas ofertas3”. Assim, nossa doação é um sinal de apreciação pelo tratamento providencial de Deus para conosco. Como tal, nós não damos para receber mais de Deus em troca, nós devolvemos a Deus porque já recebemos muito dele.

Propósito

Com que finalidade os adoradores dão durante o serviço de culto? Quais são as razões por trás do ato de dar? Pode-senotar que os adoradores dão pelas seguintes razões: 1) É um ato de adoração. 2) Isso promove a missão da igreja. 3) É uma boa mordomia.

Primeiro, dar é uma ato de adoração. Ellen White é clara: “O sistema de dízimos e ofertas tinha a intenção de impressionar a mente dos homens com uma grande verdade, que Deus é a fonte de toda bênção para suas criaturas, e que a ele é devida a gratidão do homem pelos bons dons de sua providência4”. Através da doação nós damos louvores e graças a Deus pela sua excelência e bondade. Dar é uma expressão tangível de amor e submissão a Deus, uma resposta à sua generosidade. É a resposta alegre do coração pela bondade de Deus. É a devolução ritual de uma porção que Deus inicialmente nos deu.

Segundo, O povo de Deus dá apoio à obra de Deus, especialmente “sustentando os obreiros do evangelho em seu trabalho5”. Como Adventistas, nós compartilhamos da visão que “Deus tornou a proclamação do evangelho dependente de nossos labores e dos dons de seu povo6”. Cada vez que damos, devemos assim fazer com a firme convicção de que estamos concretamente apoiando a proclamação do evangelho e o avanço da missão da igreja no mundo. No entanto, como adoradores, precisamos sempre ter em mente que nossa doação não é para a igreja, mas para Deus. Isso implica que os líderes da igreja são responsáveis a Deus e ao corpo de Cristo pela maneira como eles usam o dinheiro de Deus. Assim, dar não é apenas uma maneira visível de expressar nosso louvor e ações de graça, é também uma maneira de assinalar tangivelmente nosso comprometimento de participar com Deus em sua missão de salvar o perdido.

Terceiro, Nós damos durante a adoração corporativa porque cremos na mordomia cristã. Nós entendemos que Deus fez o mundo para o desfrute e cuidado do povo que ele criou e redimiu. Nós reconhecemos que, como mordomos de Deus, somos responsáveis a Deus pelo uso da variada graça com a qual ele tem nos confiado. Reconhecendo a total propriedade de Deus sobre nossa vida, nós dedicamos tudo que temos a ele, incluindo nossos dízimos e ofertas. Isso significa que o ato de doar é um ato de dedicação e adoração. Ao doar nós afirmamos que toda a vida deve ser vivida sob o governo de Cristo. Tal doação é uma expressão de nossa total dedicação a Deus. Assim, doar é um reposicionamento semanal da vida e das posses à liderança de Cristo. “O próprio ato de dar expande o coração do doador e liga-o mais completamente ao redentor do mundo7”. Doando, nós nos aproximamos mais de Cristo e nos tornamos mais semelhantes a Deus9, e desenvolvemos um caráter para o céu10. Como Adventistas, nós reconhecemos o dízimo como “santo ao Senhor” (veja Lev.27:30,32 NVI). É devolvido a ele como dele próprio. Além disso, nós vemos nossas ofertas como uma oportunidade de expressar nossa gratidão e amor a Deus pelo seu constante cuidado. A devolução dos dízimos e doação das ofertas não é um pensamento atrasado dentro do contexto Adventista de adoração. Os adoradores devem preparar sua doação em casa e trazê-la no sábado com o coração alegre

Teologia

Reconhecimento explícito do amor e cuidado de Deus permeia o ato de doar. Um pressuposto fundamental dessa ação litúrgica é que Deus, o Criador, Redentor e mantenedor de seu povo, merece total adoração. A razão básica para a oferta, além do financiamento de rotina do pessoal da igreja, as atividades e da missão é responder à generosidade de Deus na sua criação, na redenção e na providência. Fidelidade em dar reflete a natureza de nosso Pai celestial. Deus é fiel ao prover para seu povo, e ele manifesta isto supremamente cumprindo sua promessa ao enviar o Messias. Sua fidelidade cobre o reino inteiro da vida cristã. Doando, nós reconhecemos que Deus é um provedor fiel, porque é de sua natureza dar. Ele é compromissado em abençoar seu povo. “Jesus é Senhor” é uma afirmação do coração na adoração cristã. Na verdade, o ato de dar flui dessa afirmação central. Tanto a criação como a nova criação em Cristo são dons de Deus. Cristo se ofereceu como sacrifício e convida seus redimidos a se oferecerem como sacrifício vivo ((Rom. 12:1, 2). Sua reivindicação do reino de Deus agora é liturgicamente expressa na oferta em que a igreja reconhece a conexão vital que existe entre sua profissão de fé e suas ações concretas. Esse papel crucial de Jesus Cristo em nosso ato de dar é destacado por Ellen White:

“Todas as bênçãos precisam vir por meio de um Mediador. Agora todo membro da família humana está inteiramente entregue nas mãos de Cristo, e tudo que possuímos - quer seja o dom de dinheiro, de casas, de terras, de faculdades de raciocínio, de força física, ou de talentos intelectuais - nesta vida presente, e as bênçãos da vida futura, é colocado em nosso poder como tesouros de Deus a serem aplicados fielmente para benefício do homem. Todo dom é assinalado pela cruz e traz a imagem e a inscrição de Jesus Cristo. Todas as coisas provêm de Deus. Desde os menores benefícios até a maior bênção, tudo flui através do único Conduto - uma mediação sobre-humana salpicada com o sangue cujo valor é inestimável porque era a vida de Deus em Seu Filho11”.

Dentro dessa perspectiva, Deus está envolvido do princípio ao fim. A oferta não é um movimento unilateral da igreja para Deus. Ao contrário, Deus sempre move primeiro antes da igreja responder através da doação na adoração. Dar é uma mordomia de graça divina. Está implícito na devolução do dízimo e na doação de ofertas que Deus realmente recebe esses dons. No entanto, é a igreja que usa esses dons para o avanço do reino de Deus. Se é Deus quem recebe e a igreja quem usa as ofertas, então há uma íntima ligação entre a ação divina e a humana no propósito salvífico para a humanidade. A igreja é o instrumento para a extensão do reino de Deus na terra. A doação fiel e generosa dos dízimos e das ofertas facilita a proclamação e atualização do reino de Deus no horizonte da vitória final e escatológica de Cristo.

Conclusão

Doar é uma demonstração de nosso cristianismo e da verdadeira adoração a Deus. Como estamos agora reconciliados com Deus, nós damos grande prioridade à alegre e livre devolução de nossos dízimos e doação de nossas ofertas12. Ao doarmos com um coração grato, Deus nos abençoa de acordo com isso13. Realmente, adorar é doar e doar é adorar. Cristo exige nosso coração completamente e nossas afeições não divididas14. Ele não pode aceitar nossos dons a menos que eles venham do coração15. Doar expressa nossa total ligação com Deus que é o âmago da verdadeira adoração.

1 Ellen G. White, Conselhos sobre Mordomia, p. 72.

2 White, Australasian Union Conference Record, 1 de junho de 1900.

3 White, The Review and Herald, 4 de janeiro de 1881.

4 White, The Review and Herald, 10 de setembro de 1889.

5 White, Testemunhos para a Igreja, vol. 9, p. 249.

6 White, Atos dos Apóstolos, p. 41.

7 White, The Review and Herald, 31 de outubro de 1878

8 White, Testemunhos para a Igreja, vol. 3, p. 405.

9 White, Testemunhos para a Igreja, vol. 9, p. 255.

10 White, The Review and Herald, 16 de maio de 1893.

11 White, Fé o Obras, p. 19.

12 White, Manuscrito 159, 1899; Conselhos sobre Mordomia, p. 66; The Review and

Herald, 26 de dezembro de 1882; Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p. 238.

13 White, Serviço Cristão, pp. 90, 175; Testemunhos para a Igreja, vol. 5, pp. 267, 268;

Testemunhos para a Igreja, vol. 3, pp. 304, 305.

14 White, Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p. 160.

15 White, Testemunhos para a Igreja, vol. 2, p. 169.

Alain Coralie

Alain Coralie é o secretário executivo da Divisão África Centro Oriental. Ele está feliz casado com Caroline e é o pai orgulhoso de uma filha Audrey-Joy. Seu MTh (Oxford) e PhD (Bristol) focaram na teologia da adoração.