Então, o que é doação benevolente? Doação benevolente refere-se a qualquer doação, além do dízimo e ofertas, dadas por meio de uma organização ou diretamente a alguém em necessidade. Doar amorosamente coisas de sua propriedade tais como dinheiro, roupas de boa qualidade, um veículo, utensílios domésticos, terras, hospitalidade, talentos ou o que quer que você tenha, constitui uma doação benevolente. O tempo voluntário também é uma valiosa doação benevolente. Ao dar o seu tempo, o doador não recebe nada de valor em troca, exceto a alegria de saber que fez uma diferença para melhor na vida das pessoas beneficiadas. As doações benevolentes mais eficazes acontecem quando capacitamos os receptores, ao longo do tempo, a serem, eles também, doadores. Para que a doação benevolente seja verdadeiramente uma “caridade”, o doador deve dar de maneira voluntária e com um coração caridoso ou amoroso (1Co 13:3).

O que a Bíblia diz sobre doações benevolentes? Vamos explorar algumas das muitas referências bíblicas relacionadas a essas doações.

1. Primeiramente, o que é caridade? (1Co 13; At 9:36)

  • Dependendo da tradução, os termos “caridade” e “amor” na Bíblia são usados de forma intercambiável. Em 1 Coríntios 13, esses termos são traduções da palavra grega agape.
  • Dorcas “se dedicava a praticar boas obras e dar esmolas” (At 9:36, NVI). A palavra grega usada aqui (eleāmosunon) significa doação benevolente, empatia, compaixão.¹
  • A caridade não tem a ver apenas com o dinheiro. Caridade tem a ver com doar tudo o que você tem (At 3:6).
  • Às vezes, fazemos doações para uma “instituição de caridade” para apoiar uma causa nobre como ajudar os pobres e necessitados. No entanto, caridade abarca mais do que isso, embora tais doações estejam incluídas nesse conceito.

2. Que exemplos bíblicos fazem referência a doações caridosas? (Dt 24:19-22; Pr 19:17; Lc 10:25-37; Rm 12:7, 8; Tg 2:14-17; 1Jo 3:17, 18)

  • Deus é o exemplo supremo de doação benevolente por ter amorosamente doado o Seu Filho como um presente para a salvação dos humanos (Jo 3:16). É natural que Seus seguidores sigam Seu exemplo por meio de doações benevolentes. Doamos para Deus como resposta ao Seu amor por nós (1Jo 4:19).

3. Qual é a relação entre trazer dízimos e ofertas à casa do Tesouro e a doação benevolente? (Ml 3:10)

  • Nos tempos antigos, o templo judaico tinha depósitos especiais para receber os dízimos da colheita. Se o povo de Deus não fosse fiel, os sacerdotes não poderiam servir e continuar seus deveres (Ml 3:10, nota, Amplified Bible).2 Atualmente, porém, o dízimo de nossa renda deve ser trazido à “casa do Tesouro” (igreja) para o sustento daqueles que estão no ministério em tempo integral para que estes possam servir e continuar a cumprir seus deveres. As ofertas são utilizadas para apoiar a operação e missão da igreja. Uma vez trazidos os dízimos e as ofertas, as doações caridosas proveem às pessoas que precisam de ajuda. No entanto, não é plano de Deus que os membros da igreja negligenciem o dízimo e as ofertas e apenas façam doações caridosas.

4. Que atitudes e motivos fazem parte da verdadeira doação benevolente? (Mt 6:2, 4; Mt 19:21; Lc 12:32-34; Rm 12:7, 8; 1Co 13:3; 2Co 9:7; Fp 2:3, 4)

  • Doar com humildade, sem o desejo de ser notado ou de apenas se sentir bem.
  • Doar com sacrifício, se necessário for.
  • Doar generosamente.
  • Doar com alegria. “Seria melhor não dar absolutamente nada do que dar de má vontade; pois se dermos de nossos meios quando não temos o espírito de dar liberalmente, zombamos de Deus”.3 Essa citação está no contexto de ofertas voluntárias para a igreja, mas pode ser aplicada a qualquer dádiva destinada ao reino de Deus.
  • Doar com humildade e espírito altruísta, tendo em conta que os receptores são mais importantes do que você.

5. O que a Bíblia diz sobre educar adequadamente os filhos nos caminhos que devem seguir, o que inclui, naturalmente, serem altruístas ao doarem para os outros? (Pv 22:6)

  • “Aprendei a lição da renúncia, e ensinai-a aos vossos filhos. Tudo quanto pode ser poupado pela abnegação é agora preciso na obra a ser feita. Os sofredores devem ser aliviados, vestidos os nus, alimentados os famintos”⁴
  • “As crianças devem ser educadas a negar a si mesmas. [...] Em cada lar deveria haver um cofre de abnegação, e que, nesse cofre, deviam as crianças ser ensinadas a colocar as moedas que de outro modo gastariam em doces e outras coisas desnecessárias. [...] Verificareis que, ao colocarem as crianças as moedas nesses cofres, alcançarão uma grande bênção”.⁵
  • Outra ideia é dar a cada criança três envelopes rotulados: ECONOMIAS, DOAÇÕES, GASTOS. Assim, quando recebem dinheiro, poderão dividi-lo entre os três envelopes. O conteúdo do envelope DOAÇÕES pode ser dividido entre dízimo, oferta e doações benevolentes. As crianças devem continuar a reabastecer os envelopes na medida em que doam do seu próprio dinheiro.
  • Uma ferramenta útil para as crianças em suas doações benevolentes é escolher e custear uma necessidade listada no Catálogo de Presentes da ADRA preparado para crianças que é publicado na época do Natal.

6. Que conselho Jesus deu sobre doações benevolentes em que há parcialidade da parte do doador? Como a dignidade das pessoas necessitadas pode ser preservada? (At 20:35)

  • Quando doamos aos necessitados, devemos nos lembrar de ofertar-lhes também o dom da dignidade. Quando os capacitamos a prover para si e para os outros, sua dignidade é restaurada e eles passam a experimentar pessoalmente a bênção de dar. “Quando os destinatários permanecem como destinatários e os doadores se contentam em permanecer como doadores, a situação não é tão boa quanto poderia ser. Talvez a melhor doação seja aquela que permite ao pobre conhecer as alegrias de ser um doador”.⁶
  • John Perkins, um cristão que é líder em desenvolvimento comunitário, diz que atos de caridade podem ser perigosos se não forem feitos com sabedoria. Por quê? “Porque os doadores podem se sentir bem com ações que geram resultados muito pequenos, ou que até criam dependência. O resultado é que esse sentimento de satisfação tira qualquer motivação para buscar estratégias mais criativas de desenvolvimento a longo prazo. Superar uma atitude caridosa é uma tarefa difícil porque exige que os doadores exijam mais de si mesmos do que tão somente boa vontade”.7 Perkins explica ainda que, ao demonstrarmos caridade, “de alguma forma, temos que desconectar o que damos e a forma como damos da nossa necessidade de nos sentir bem conosco mesmos”.⁸

7. Que conselho o apóstolo Paulo dá à igreja cristã a respeito da sabedoria e discernimento na prática da doação benevolente? (1Tm 5:3-16)

  • Deus não nos pede para doar cegamente a cada necessidade que se apresente. A maioria de nós não está transbordando de dinheiro e recursos; por isso devemos estabelecer prioridades e escolher com discernimento destinatários que usarão adequadamente nossas doações.
  • Por exemplo, ao dar conselhos detalhados a Timóteo sobre o apoio da igreja às viúvas, Paulo explica que nem todas as viúvas devem receber doações benevolentes da igreja. Algumas viúvas ainda podem contar com o apoio de seus filhos e de outros parentes, o que constitui responsabilidade e prioridade de uma família cristã (1Tm 3:4). Viúvas elegíveis para apoio beneficente de sua família da igreja são viúvas que não têm ninguém por elas e sem meios de sustentar a família (v. 3, 5).

8. Como você pode assegurar-se de que terá recursos financeiros para compartir? (1Co 16:1-3)

  • Os membros da igreja primitiva faziam doações benevolentes para apoiar os pobres. Paulo ordenou que essas doações fossem separadas regularmente, de acordo com a renda de cada membro da igreja, e guardadas para serem entregues aos necessitados de Jerusalém. Atualmente, precisamos de intencionalidade em nossas doações benevolentes. Para doações monetárias, esse dinheiro precisa ser reservado. Talvez você possa incluir em seu orçamento um fundo do tipo “necessidades especiais” o qual você pode reservar para, depois, destiná-lo ao o seu orçamento mensal. Assim, quando surge uma necessidade, você tem algo disponível para dar. Naturalmente, existem outras maneiras de doar, como mencionado anteriormente. Entretanto, o dinheiro é sempre necessário.
  • O “cofre de abnegação” recomendada por Ellen White, o qual foi mencionado na pergunta 5 é outro exemplo de “separar” algum dinheiro para doar.
  • Ellen White acreditava que não se deve gastar toda a renda. Uma reserva deve ser mantida para quando surgir uma necessidade. Ela tinha uma meia guardada no armário da cozinha onde guardava secretamente algum dinheiro que retirava de sua renda.⁹
  • Deus pode impressioná-lo a abrir uma organização/fundação beneficente sem fins lucrativos.

9. Como planejar doações benevolentes para vários anos no futuro? (Lc 12:16-31)

  • A doação benevolente é uma prática abençoada para o presente, mas você deve fazer planos para a doação benevolente no futuro. Sim, o homem rico da parábola foi sábio em planejar seu futuro armazenando suas abundantes colheitas em celeiros maiores. Mas, infelizmente, ele também era tolo, uma vez que o seu planejamento era centrado nele próprio. Ele não tinha planos de compartilhar com outros necessitados. Tudo o que pensava era que tinha muitas coisas boas armazenadas e que elas iriam sustentá-lo por muitos anos. Então, ele poderia “descansar, comer, beber e aproveitar a vida” (Lc 12:19). Deus o chamou de tolo, pois não era “rico para com Deus” (v. 21).
  • Uma maneira de ser “rico para com Deus” é planejar doações benevolentes que constem em seu testamento, confirmando seu derradeiro desejo. Naturalmente, a prática de dar aos pobres enquanto você está vivo também constrói o “tesouro nos céus” (Lc 18:22) que Jesus ofereceu ao jovem rico (v. 18-25).

10. Que benefícios são obtidos pelos que oferecem doações benevolentes?(Pv 11:24, 25; Pv 28:7; Is 58:6-11; Lc 6:38)

  • “Nosso próprio bem-estar está intimamente relacionado ao de nossos semelhantes”10
  • “Fazer o bem é uma obra que beneficia tanto ao doador como ao que recebe”.11
  • “O prazer de fazer o bem aos outros confere aos sentimentos calor que atravessa os nervos, aviva a circulação do sangue e promove a saúde mental e física”.12
  • Uma pesquisa realizada com 3.296 voluntários que realizavam atos de bondade demonstrou que existe uma clara relação de causa e efeito entre ajudar e ter boa saúde.13

11. Qual será o teste final relacionado à doação benevolente que terá lugar no tempo do fim? (Mt 25:34-46).

  • “A piedade prática é o único tipo de religião reconhecida no tribunal de Deus”14
  • A doação benevolente, em todas as suas formas, é uma séria questão escatológica: “E quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns dos outros”. Assim descreveu Cristo aos discípulos, no Monte das Oliveiras, as cenas do grande dia do Juízo. E apresentou sua decisão como girando em torno de um ponto. Quando as nações se reunirem diante dEle, não haverá senão duas classes, e seu destino eterno será determinado pelo que houverem feito ou negligenciado fazer por Ele na pessoa dos pobres e sofredores.”¹⁶ 


¹ Kurt Aland et al., eds., Analytical Greek New Testament (Stuttgart, Germany: United Bible Societies, 1994).

² Amplified Bible, copyright © 1954, 1958, 1962, 1964, 1965, 1987, 2015 by The Lockman Foundation. All rights reserved. Used by permission.

³ Ellen G. White, Conselhos sobre Mordomia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 122.

⁴ Ellen G. White, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 79.

Ibid., p. 132.

⁶ Robert J. Lupton, Compassion, Justice and the Christian Life: Rethinking Ministry to the Poor (Ventura, Calif.: Regal Books, 2007), p. 55.

⁷ John M. Perkins, Beyond Charity: The Call to Christian Community Development (Grand Rapids: Baker Books, 1993), p. 23.

⁸ Ibid., p. 28.

⁹ A. L. White, Ellen G. White: The Early Years, 1827-1862 (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publishing Association, 1985), vol. 1, p. 272.

¹⁰ Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1977), vol. 4, p. 306.

¹¹ Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), v. 2, p. 534.

¹² Ellen G. White, Beneficência Social (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 303.

¹³ Ver Allan Luks with Peggy Payne, The Healing Power of Doing Good (Lincoln, Nebr.: iUniverse.com, Inc., 2001).

¹⁴ The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4, p. 306.

¹⁵ Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 451.

May-Ellen Colón

May-Ellen Colón, PhD, é diretora jubilada da Comunidade Adventista de Serviços em nível internacional da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.