Liderança Pastoral E Doações

Entrevista com o Pastor Chad Stuart, Igreja Adventista do Sétimo Dia de Spencerville

Aniel Barbe: Líderes são homens e mulheres de influência. Como você aplicaria essa afirmação à liderança pastoral na igreja local?

Chad Stuart: Toda a liderança pastoral é influente. Eu não posso controlar se os voluntários são pagos ou não, porque eles não são pagos. Eu não posso expulsá-los da igreja por não serem voluntários ou coisa parecida. Então, tudo o que tenho é a capacidade de influenciar as pessoas para que ajam ou respondam. Um líder que não sabe como influenciar ou que não reconhece a importância da influência não é um líder. Infelizmente, em nossa igreja dizemos a todos que são líderes, mas assistimos passivamente a igreja morrer. Em muitos casos, “líder” é apenas um título, e ninguém segue essa pessoa. Se você não pode influenciar as pessoas, você não é um líder.

AB: Poderia falar sobre a responsabilidade dos pastores da igreja em influenciar os membros a apoiar financeiramente a igreja? Você considera isso parte de sua responsabilidade? Por quê?

CS: Com certeza, isso faz parte da responsabilidade de cada pastor. Deixe-me começar pelo mais importante: é nossa responsabilidade porque é bíblico. Existem mais textos bíblicas sobre finanças e doação do que sobre fé, amor, Céu ou qualquer outra coisa. Se devemos ensinar a totalidade da Palavra de Deus, também devemos ensinar sobre doar. Quando você ensina sobre doações de maneira correta, você influenciará as pessoas a doar, porque a Palavra de Deus é verdadeira, poderosa e convincente.

Em segundo lugar, como pastor, você tem uma responsabilidade, posto que a doação está intimamente ligada ao coração e ao crescimento espiritual. Quando as pessoas doam, isso fortalece seu caráter e harmoniza sua felicidade. Portanto, como pastor, tenho essa responsabilidade.

Além disso, tenho a responsabilidade de ser íntegro. Eu sou pago pelo dízimo, pela generosidade dos outros. Portanto, como ousaria não ser íntegro? Que Deus me livre de tirar um centavo da igreja se eu não estiver disposto a tentar influenciar meu povo a também contribuir. Pastores em todo o mundo são beneficiados com aquilo que as igrejas estão trazendo para as Associações como dízimo, de acordo com suas respectivas capacidades financeiras, e isso é um privilégio. Por uma questão de integridade, espero que todos preguem e usem sua influência para ajudar a contribuir para esse fundo.

AB: Após 22 anos de serviço como pastor de igreja local, quais obstáculos você tem observado que impedem os membros de crescerem em sua participação nas doações para a igreja?

CS: Hoje em dia, um dos maiores obstáculos é o desânimo. Quando repetimos mensagens negativas, elas se tornam profecias autorrealizáveis. Por exemplo, quando era criança, eu nunca lia os escritos de Ellen White. Tudo o que eu ouvia era: “As pessoas que gostam de Ellen White são legalistas”, além de outros comentários negativos. Como resultado, nunca peguei um livro dela. Assim, já se esperava que eu fosse antagônico a Ellen White. Então, um dia, um dos meus professores me disse: “Mas você já a leu?” E eu pensei: Oh, não! E pela primeira vez li um capítulo de O Desejado de Todas as Nações: “É Necessário que Ele Cresça”. Aquele capítulo foi tão poderoso para mim que pensei: uau, isso é incrível! Veja, eu até fico arrepiado só de pensar nisso agora.

Outro exemplo típico relacionado ao nosso tópico seria declarações como esta: “Se a igreja não seguir um certo curso de ação, nossos filhos vão parar de apoiar a igreja; eles vão deixar a igreja”. De tanto repetir isso, nossos filhos acabam nos dando ouvidos, param de apoiar a igreja e a deixam.

AB: Como você abordaria a questão do desânimo?

CS: Eu não doo ou peço para as pessoas doarem por acreditar que a igreja sempre usa o dinheiro da melhor forma. Honestamente, há coisas que a igreja faz que eu não aprecio. Há programas que fazemos o tempo todo como denominação que eu não gosto. Mesmo assim, eu continuo doando e pedindo para as pessoas doarem porque o nosso, ou o meu, ato de doar não está ligado a um programa específico ou se a igreja faz isso ou não faz aquilo. Eu doo porque acredito que este é o movimento de Jesus Cristo. Esta igreja é o movimento de Jesus Cristo para os últimos dias. Esse movimento é maior do que qualquer decisão ou programa específico. E acredito que, biblicamente, Deus nos pede para trazer nosso dízimo e nossas ofertas – não apenas um ou o outro, mas as duas coisas.

AB: Você pode falar mais sobre como a convicção de que a igreja é o instrumento designado por Deus impacta a doação?

CS: Vou ser muito transparente e honesto. Quando comecei meu ministério, as pessoas se aproximavam mim e diziam: “Pastor, eu dou 10%, mas é tudo para a igreja local”. Eu respondia dizendo: “Tudo bem, desde que você esteja doando 10%. Não me importa para onde você está doando.” Isso foi no início do meu ministério, há 15, 16 anos. Às vezes, eu até dizia para a Associação: “Se vocês não nos ajudarem nesse aspecto, eu vou contar para as pessoas; vou deixar que elas saibam disso. E se eu fizer isso, elas vão doar para mim (igreja local) em vez de doarem para vocês”. Pessoalmente, eu nunca minimizo meu dízimo. No entanto, eu dizia às outras pessoas para irem em frente e doassem apenas para a igreja local ou que direcionassem qualquer dinheiro que pudessem para um projeto especial. Eu nunca dizia diretamente que elas deviam desviar o dízimo, mas se elas mencionassem que faziam isso, eu dizia que estava tudo bem.

Um dia, fui convidado a me juntar a um movimento religioso que estava se separando da igreja oficial, caso eu desejasse plantar uma igreja. Pensei e orei sobre o assunto. Por causa de alguns mentores e de outras coisas mais, fui convencido de que Deus levantou este movimento (a Igreja Adventista do Sétimo Dia) para um propósito particular. Estudei o livro de Apocalipse, analisando as evidências da verdadeira igreja de Deus e estudei as mensagens dos três anjos. Fiquei totalmente convencido sobre o fato de que foi Deus quem estabeleceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia, e isso mudou meu ministério. Também foi isso que impactou minha disposição em dizer às pessoas para doarem a esta igreja. Portanto, sempre pregarei primeiro sobre o dízimo e também sobre as ofertas. Mas sempre prego sobre o dízimo porque descobri que, quando as pessoas começam a se fieis no dízimo, o restante também cresce.

AB: Existem outros obstáculos para a doação?

CS: As pessoas têm dificuldade em doar porque Satanás sabe que a doação é algo forte e transformador. O que Satanás quer fazer? Ele quer que façamos qualquer coisa que possamos para não termos nosso coração transformado, pois é isso que vai acontecer. Então, ele nos distrai. Se não estudarmos a Bíblia ou passarmos tempo em oração pela manhã, ele vai nos distrair para que não testemunhemos, pois ele sabe que, quando testemunhamos, aprendemos algo e depois compartilhamos aquilo que aprendemos e, assim, crescemos melhor. Ele quer desviemos nossa atenção de doar pois sabe que a doação transformará nossos corações e nos dará um espírito mais generoso.

AB: Nos últimos anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia de Spencerville registrou um crescimento significativo nos dízimos e nas ofertas. Durante uma conversa recente, você atribuiu isso ao modelo de mordomia que está usando. Poderia destacar os elementos principais?

CS: Meu modelo de mordomia é baseado em três princípios: consistência, gratidão e generosidade.

AB: O que você quer dizer com consistência?

CS: Se eu, como pastor, não falar sobre doação de forma consistente, as pessoas esquecem. Essa omissão cria vazamentos de visão. Por isso, prego algo específico sobre doação pelo menos três vezes por ano. E faço isso em momentos específicos, estrategicamente. Recentemente, preguei um sermão sobre doação, uma vez que estamos entrando no verão, e as pessoas tendem a diminuir as doações durante o verão. Mesmo quando não estou pregando sobre doação, faço referências a ela. Eu sempre falo sobre doação, evangelismo e dedicar tempo para a Palavra de Deus. Sempre volto a esses três temas. Mesmo que não sejam o meu tema principal, eu os menciono em meus sermões. Ensinar sobre doação sempre será um tema recorrente. Ao ensinar essas coisas, estou ajudando as pessoas a serem doadores mais sistemáticos, sem que eu tenha que ficar implorando.

Além disso, tenho que ser consistente nas minhas doações. Só posso convidar as pessoas a fazerem o que estou me propondo a fazer. Não digo isso no sentido de um número ou valor específico. O objetivo da nossa igreja é 10% de dízimo e uma porcentagem recomendada como oferta. Bem, estou devolvendo 10% de dízimo, uma certa porcentagem como oferta, e essa porcentagem vem aumentando a cada ano. Christina – minha esposa – e eu estamos aumentando nossas doações, até que cheguemos ao objetivo recomendado. Não posso dizer às pessoas que quero que elas alcancem o objetivo recomendado e eu mesmo ficar para trás. Não, não, não! Eu tenho que ser consistentemente consistente.

AB: Você também consideraria a gratidão como uma característica da igreja e de sua liderança?

CS: Não estou falando que os outros devem ter gratidão para com Deus, embora eu ensine sobre isso. Estou falando sobre a gratidão da igreja para com seu povo. Então, digo às pessoas, de uma maneira bastante regular: obrigado por apoiar esta igreja, e as elogio. Eu digo à igreja: "Estou muito orgulhoso desta igreja por ela ser tão generosa. Adoro me gabar de vocês. Adoro quando vou à Associação e vejo e ouço relatórios assim". Se alguém faz uma doação pela primeira vez, envio uma carta para agradecer por sua primeira doação. Manifesto meu apreço e explico como esse dinheiro é usado, e todo o nosso processo de distribuição financeira. Naturalmente, também transmito uma visão nessa carta, mas meu foco é agradecer. No final do ano, cada pessoa, não importa se doa 1 dólar ou 1 milhão de dólares, recebe um presente de agradecimento e uma carta desta igreja. Nunca dou como certo que nosso povo vai doar ou continuar doando. Seja sempre grato por eles estarem doando.

AB: E a generosidade?

CS: Não estou me referindo aos membros serem generosos ou não, embora eles sejam, de fato, generosos. Refiro-me à igreja sendo generosa com eles. Por exemplo, anos atrás, quando cheguei aqui (Igreja Adventista do Sétimo Dia de Spencerville), nossa assistência aos necessitados era cerca de $5.000 por ano; agora, ajudamos os necessitados em nossa igreja com valores entre $25.000 e, às vezes, $40.000 por ano. Tínhamos cerca de $40.000 ou $50.000 orçados anualmente para assistência de mensalidades escolares para as crianças da nossa igreja. Agora, em 2024, nosso orçamento para isso é de $117.000 para este ano. Quando alguém é batizado nesta igreja, recebe uma Bíblia de Estudo Andrews gravada. Isso custa muito dinheiro, mas queremos demonstrar generosidade.

AB: Além de consistência, gratidão e generosidade, há outra prática de liderança que você considera ter um impacto positivo nas doações?

CS: Prestação de contas! Somos muito transparentes com o dinheiro. A cada trimestre, cada membro recebe um recibo demonstrativo de suas doações, além daquele que emitimos a cada doação. Não fazemos algo no final do ano apenas para fins fiscais. Você pode saber agora mesmo como está sua contribuição. Se alguém não deu nada durante um trimestre, recebe um envelope com uma mensagem que diz "nada". Esta prática também desperta responsabilidade nos membros. Depois de receber um envelope indicando que você não deu nada, você refletirá: “Rapaz, sou membro aqui... e não dei um centavo sequer para a igreja”. Após receber uma mensagem dessas, uma pessoa me procurou e reclamou que a informação estava incorreta. Ela estava convencida de que o cônjuge estava doando em seu nome. Após a confirmação das informações fornecidas, a pessoa se desculpou: “Desculpe. Pensei que estávamos doando, mas não estávamos. Vamos ter uma conversa em família”. Posso ajudar os membros a doarem de maneira diferente quando eles sabem que alguém está vendo como estão doando.

AB: Qual é o seu grau de satisfação em relação às doações dos membros?

CS: Antes de eu chegar a esta igreja, a maior porcentagem dos nossos doadores doava entre zero e $999. Eram poucas as famílias que doavam uma quantia significativa. Quando cheguei aqui, um dos meus objetivos era que mais pessoas doassem em um nível mais alto. Agora, a maior porcentagem dos nossos doadores doa entre $3.000 e $8.000 por ano. Também aumentamos a base de doadores. Quando cheguei, tínhamos cerca de 500 unidades doadoras, incluindo famílias, e agora temos mais de 900 unidades doadoras.

O Pastor Chad Stuart

Chad Stuart é o pastor sênior da Igreja Adventista de Spencerville em Maryland, EUA, desde 2014. Ele é casado com Christina, enfermeira registrada com treinamento especializado em anestesia, por 21 anos, e eles têm três filhos, de 15, 13 e 11 anos. Ele tem mestrado em Divindade pela Universidade Andrews e doutorado em Ministério em Revitalização de Igrejas pelo Southern Baptist Theological Seminary. O pastor Chad correu 9 maratonas e espera continuar correndo maratonas até que Jesus venha.