MEDIDAS CONDUCENTES

Ministérios Adventistas de Mordomia

Se você está no meio de um vasto e árido deserto e alguém anuncia: “Você vai encontrar comida e água logo ali”, tais palavras vão gerar esperança e motivação. Porém, a menos que a pessoa lhe diga o caminho para chegar até a comida e a água, aquelas palavras não mudarão muito a sua realidade. É assim que as medidas conducentes funcionam. Elas estabelecem o caminho para o destino desejado.

Muitos documentos com fartas orientações, visões inspiradoras, missões bem articuladas e objetivos claros, acabam, infelizmente, no fundo de uma gaveta ou num arquivo de computador que nunca é aberto. Nosso maior desafio como igreja, ou departamento, não é planejar e estabelecer metas (geralmente somos bons nisso), mas implementar essas coisas. Num documento estratégico, as medidas conducentes funcionam como facilitadoras da implementação.[1]

O documento Orientação Estratégica dos Ministérios de Mordomia da Associação Geral contém três medidas principais que nos informam sobre como desenvolver uma cultura que coloca a Deus em primeiro lugar na igreja e na sociedade em geral.

Medida Conducente 1: Empoderamento Espiritual

Lemos no documento Orientação Estratégica dos Ministérios de Mordomia da Associação Geral: Nossa primeira tarefa é garantir que “os membros sejam nutridos espiritualmente, com foco no princípio ‘Deus em Primeiro Lugar’, por meio de visitas aos lares, devocionais semanais sobre ofertas, sermões regulares de mordomia, cerimônias anuais de compromisso, e outras atividades relevantes”.[2]

A primeira medida conducente diz que estamos nutrindo uma cultura que coloca a Deus em primeiro lugar quando ajudamos as pessoas a estabelecerem e desenvolverem um relacionamento pessoal com Deus. Um estilo de vida que coloca a Deus em primeiro lugar é uma empreitada espiritual apropriada para o uso de meios espirituais. Isso se alinha com os ensinamentos do apóstolo Paulo: “Interpretando verdades espirituais para os que são espirituais” (1Co 2:13, NVI). Líderes de mordomia são líderes espirituais em essência.

O modelo de liderança espiritual, proposto pelo professor Louis Fry, especialista em liderança, pode nos ajudar a entender como funciona o empoderamento espiritual.[3] Seu ponto de partida, no lado esquerdo do seu modelo, é a vida interior do líder espiritual. O empoderamento espiritual é um trabalho delegado aos líderes espirituais, pois eles próprios já são espiritualmente empoderados. Ao empoderarem outros, eles estão cultivando a vida espiritual de si próprios.

O segundo componente do modelo apresenta os três elementos essenciais: esperança/fé, visão e amor altruísta. Esses elementos devem ser demonstrados naquilo que fazemos e ensinamos nos ministérios de mordomia. Somos chamados para compartilhar uma visão inspiradora sobre a nossa identidade como seres humanos, criados e redimidos para sermos mordomos de Deus. Essa visão também abrange a ideia de que todos foram projetados para sermos associados a Deus em Sua missão. Comunicamos esperança/fé compartilhando a convicção de que a graça de Deus nos transforma em mordomos, que já recebemos o que é necessário para completar a missão final de Deus e que Deus tem recompensas para os fiéis. As pessoas experimentam o amor altruísta quando as servimos com um espírito também altruísta e falamos sobre o amor incondicional de Deus por todos. Nossa primeira preocupação não são o bolso das pessoas, mas sua salvação e vida abundante.

Como resultado de esperança/fé, visão e amor altruísta, os interessados primeiramente adquirem uma certeza sobre terem sido chamados, algo que traz significado e propósito para a vida da pessoa. Em segundo lugar, eles desenvolvem a convicção de que são membros valiosos de um corpo, criando, dessa forma, um sentimento de pertencimento.

Combinados, a certeza do chamado e o sentimento de pertencimento são fontes poderosas de motivação intrínseca, pois eles moldam as escolhas e as ações das pessoas.

De acordo com o modelo de Fry, o resultado da liderança/capacitação espiritual são indivíduos comprometidos com a organização a que pertencem e com o cumprimento da missão da organização. Isso significa total envolvimento dos membros! Como resultado adicional, o destinatário da capacitação espiritual desfruta de um alto nível de satisfação na vida pessoal.

Medida Conducente 2: Educação em Mordomia para Todos

A segunda medida conducente é resumida nestas palavras: “Todos os segmentos da membresia da igreja, incluindo o de membros em potencial, devem receber treinamento adequado sobre doações regulares e sistemáticas, bem como sobre a responsabilidade de apoiar de maneira equitativa a missão local e mundial, [...] a gestão das finanças pessoais, criação de riqueza e outros temas relevantes. Os ensinamentos deverão ser baseados na Bíblia, no livro de Ellen G. White Conselhos sobre Mordomia e em outros dos seus escritos”.[4]

Esta segunda medida conducente condiz com a maior parte do que já fazemos como líderes e instrutores de mordomia. No entanto, muitas vezes presumimos que um indivíduo ou uma família tem conhecimento sobre o estilo de vida de um mordomo simplesmente por ter crescido na igreja ou por frequentar a igreja por bastante tempo. Essa suposição pode ser enganosa. A “ignorância normativa” é um fenômeno comum entre os cristãos que frequentam a igreja. Isso é particularmente verdadeiro no que diz respeito aos instrutores de mordomia. A menos que sejamos educadores intencionais de todos os segmentos, muitos podem não entender as implicações de uma vida em que Deus está em primeiro lugar. Isso tem tudo a ver com a instrução do apóstolo Paulo: “E como saberão em quem confiar se nunca ouviram falar do único que é digno de confiança?” (Rm 10:14, A Mensagem).

O segundo segmento dessa medida conducente visa ajudar um grupo mais amplo – a comunidade em geral – a gerir e criar riqueza. Mencionarei dois exemplos que dão suporte a esse segmento. Recentemente, ao consultar o Relatório Global de Dízimos e Ofertas de 2019, chamou minha atenção o dízimo per capita de várias divisões mundiais.[5] Quase metade das divisões tinha um dízimo per capita inferior a cem dólares. Existem várias interpretações válidas para esse número: 1) as condições econômicas adversas que prevalecem nesses territórios, 2) a necessidade de uma auditoria da membresia, 3) problemas de infidelidade nos dízimos, e 4) muitos membros fiéis estão têm baixíssima ou nenhuma renda. Estudos mais aprofundados poderão ajudar a identificar a causa exata do baixo dízimo per capita de cada entidade, mas não estaríamos errados em supor que, muitas vezes, o resultado se deve a uma mistura de causas. Parece que a interpretação 4 é particularmente verdadeira em lugares onde a igreja está atualmente experimentando maior crescimento. A menos que ajudemos intencionalmente os membros da igreja na área do crescimento de riquezas, uma grande proporção de nossos membros fiéis não será capaz de associar-se com a missão final de Deus estabelecendo com ela um nível mais elevado de participação financeira.

Um segundo exemplo é a terrível condição econômica que muitos enfrentam hoje. Tanto dentro como fora da igreja, os indivíduos e as famílias desejam aprimorar suas habilidades de administrar os recursos para saberem como lidar de forma mais eficaz com a realidade adversa existente. Esta é a necessidade atual percebida e, como outras necessidades percebidas, esta também representa uma porta de entrada para o evangelho. Classes de iniciação financeira baseadas na Bíblia poderão levar as pessoas a se conectarem com Jesus, o Mordomo sem Falhas.

Medida Conducente 3: Desenvolver Confiança e Segurança

Não é aconselhável ter muitas medidas conducentes. A terceira medida conducente tem a ver com a criação de um clima de confiança: “Os líderes de mordomia encorajam a liderança da igreja e trabalham em conjunto com ela visando estabelecer um sistema de controle interno, cumprir as diretrizes de uso do dízimo, ajudar a garantir que as informações financeiras regulares sejam fornecidos a todos os membros e facilitar o envolvimento em outras ações que contribuam para o desenvolvimento da confiança”.[6]

Sabemos muito bem que a confiança é um fator de aceleração de uma parceria. As palavras inspiradas de Ellen G. White falam da importância dessa medida conducente: “Os que ocupam cargos de responsabilidade devem agir de tal maneira que as pessoas tenham firme confiança neles.”[7] Infelizmente, quando consideramos que, em todo o mundo, uma em cada dez entidades administrativas está recebendo um relatório de auditoria negativo ou de isenção de responsabilidades, podemos admitir legitimamente que existe uma necessidade de melhorias na área de desenvolvimento da confiança.

Uma abordagem equilibrada é essencial para a execução desta medida conducente. Embora estejamos sempre encorajando a liderança da igreja a demonstrar confiabilidade, é nosso dever convidar os membros para permanecerem fiéis a Deus, apesar de eventuais percepções de infidelidade por parte da liderança. Nossa primeira razão para sermos fieis é a imutável fidelidade de Deus e não a fidelidade humana, que nunca se mostra constante.

Além de atuarem como estradas e caminhos para os nossos objetivos, as medidas conducentes nos ajudam a aferir o progresso. As metas finais nos informam se chegamos ao destino, enquanto as medidas conducentes e as ações e iniciativas a elas associadas nos dizem se estamos no caminho certo para alcançarmos a meta e quais são as medidas corretivas necessárias. Uma versão adaptada do Modelo de Avaliação dos Ministérios de Mordomia pode servir como ferramenta para acompanhar a execução das medidas principais.

As medidas conducentes são nossas aliadas para um ministério de mordomia bem-sucedido em todos os níveis da igreja. Em espírito de oração, considere as três principais medidas recomendadas aqui: capacitação espiritual, educação sobre mordomia para todos e desenvolvimento da confiança e da segurança. Adapte, reformule ou crie suas próprias medidas conducentes. Os que seguem o caminho chegam ao seu destino.

Aniel Barbe


[1] Chris McChesney, Sean Covey e Jim Huling, The 4 Disciplines of Execution: Achieving Your Wildly Important Goals (New York: Simon and Schuster, 2012).

[2] Adventist Stewardship Ministries, “Stewardship Ministries Strategic Orientation 2022–2025,” Stewardship Ministries, https://stewardship.adventist.org/strategic-orient...(pdf).pdf. Acesso: 17 Out 2022

[3] Louis W. Fry, “Spiritual Leadership: State-of-the-Art and Future Directions for Theory, Research, and Practice,” em Spirituality in Business, ed. Jerry Biberman e Len Tischler (Londres: Palgrave Macmillan, 2008), p. 106–124.

[4] Adventist Stewardship Ministries, “Stewardship Ministries Strategic Orientation 2022–2025.”

[5] Archives, Statistics, and Research. Annual Statistical Report, v. 2 (Silver Spring, MD: Office of Archives, Statistics, and Research, 2020), https://documents.adventistarchives.org/Statistics....

[6] Adventist Stewardship Ministries, “Stewardship Ministries Strategic Orientation 2022–2025.”

[7] Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 13 (Silver Spring, MD: Ellen G. White Estate, 1990), p. 198.

Aniel Barbe

O Pastor Aniel Barbe é diretor associado dos Ministérios de Mordomia Cristã e editor da revista Mordomo Dinâmico na Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia em Silver Spring, Maryland, EUA.