Se, de acordo com o Los Angeles Times(21 de março de 2014), a média de lares estadunidenses possui 300 mil itens, até onde isso irá? Muitos de meus amigos estavam muito contentes e satisfeitos com seus smartphones, até que surgiu a última versão de iPhone ou Android. Pergunto-me o que farão quando essa nova versão já não for a última? Há muitas explicações para essa realidade, mas o problema subjacente vai mais além da atração a novas invenções. Algo mais fundamental está em jogo: a satisfação, um estado mental que também se pode infiltrar em outras áreas da vida.
Geralmente, o contentamento é conhecido como o estado emocional de satisfação. De modo geral, as pessoas não estão satisfeitas com o que têm e começam a buscar mais em outras partes. Isso não apenas influi em nossos hábitos de consumo, mas também em outras áreas da vida, como as relações consigo mesmo, com os demais e com Deus.
A prova da satisfação
Adão e Eva foram desafiados no âmago de seu contentamento. Os primeiros seres humanos receberam motivos suficientes para estar satisfeitos, considerando quem eram e o que tinham. Primeiro, Deus os criou à Sua própria imagem (Gn 1:26); todos bons e perfeitos (Mt 5:48). Em segundo lugar, receberam muitas opções de qualidade: “agradáveis à vista e boas para alimento” (Gn 2:9). O fruto proibido é descrito com a mesma beleza e atração das demais árvores, mas Adão e Eva não deviam comê-lo. A satisfação é reconhecer que tudo o que é bom e atraente não tem de ser nosso.
Eva experimentou a perfeição e a alegria até que o diabo redefiniu sua necessidade através das “palavras” da serpente. Ela fora criada à imagem de Deus e, assim sendo, não necessitava de mais nada para demonstrar sua identidade. Entender quem somos e nosso propósito na vida pode afetar o nível de nossa satisfação. John Mason, em seu livro Conquering an Enemy Called Average (1996), escreveu as seguintes palavras reveladoras: “Até que não façamos as pazes com quem somos, nunca nos contentaremos com o que temos”.[i]
Os que fizeram fila, no frio invernal, para o lançamento do último smartphone, por um tempo ficaram satisfeitos e até mesmo orgulhosos do modelo de celular que tinham. Porém, posteriormente, devido aos anúncios e promoções da última versão, foram levados a crer que o que possuíam já não era suficientemente bom. Um elemento externo pode semear as sementes da insatisfação com aquilo que outrora era apreciado.
Expressões de contentamento
A pessoa contente reconhece que ninguém é perfeito, e está satisfeita com o que ela é. Meu irmão mais velho não desenha como um retratista profissional, mas está satisfeito com seu estilo de trabalho. Reconheça seus limites e valorize e aprecie seu potencial. Com frequência, a pessoa descontente foca na imperfeição. Essa situação leva à insegurança quanto à autoestima.
O contentamento é essencial em um relacionamento saudável. Quando as pessoas em uma relação estão contentes com a unidade que constituem, são menos propensas a participar do jogo de comparação com os outros. O espírito de descontentamento é como um câncer para a lealdade e, por fim, arruinará uma união que uma vez foi forte.
Um motivo real para o descontentamento é o desejo de crescer. É provável que o crescimento e a melhoria ocorram quando uma pessoa não está satisfeita com seu status quo. Um exemplo pode ser uma deficiência observada no conhecimento. Uma vez identificada a necessidade, são desenvolvidas estratégias para transformar essa realidade atual. Isso é diferente do descontentamento gerado pelos ciúmes ou pela cobiça. A motivação não é se encaixar em uma ranhura da aceitação social.
O contentamento teria evitado que Adão e Eva caíssem em pecado. Ele ajuda a salvar os relacionamentos e o dinheiro. É um escudo contra as pressões desnecessárias e proporciona paz interior. Assim sendo, as relações são conservadas e os recursos dados por Deus são protegidos. Acima de tudo, a satisfação demonstra nossa confiança na providência de nosso Pai Celestial (Mt 6:11; 7:11). Não se trata de ingênua cegueira da realidade atual da pessoa, mas a confiança nAquele que Se responsabiliza por nós e que declara: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13:5).
[i]Mason, John, Conquering an Enemy Called Average(Tulsa, Oklahoma, 1996).