TRANSPARÊNCIA E RESPONSABILIDADE NA MORDOMIA FINANCEIRA DA IGREJA LOCAL

“Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Pelo contrário, rejeitamos as coisas ocultas que trazem vergonha, não agindo com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus. E assim, pela manifestação da verdade, nos recomendamos à consciência de todos na presença de Deus (2Co 4:1, 2).

Na passagem acima, o apóstolo Paulo comparte a noção de que é dever e privilégio dos pastores e oficiais da igreja local desempenhar seus ministérios da maneira mais transparente possível, para que todos a quem eles prestam contas possam entender o que os ensinamentos de Deus realmente são. Isso não se aplica apenas à apresentação da Palavra de Deus, mas também ao manejo dos Seus recursos financeiros.

A importância da transparência e responsabilidade nos negócios é vista como “o primeiro passo acessível para os líderes darem para estabelecer a confiança”.[1] Se essas qualidades são vistas como necessárias em organizações seculares, muito mais importantes elas são nas igrejas adventistas que, coletivamente, recebem aproximadamente US$ 3,2 bilhões em dízimos e ofertas a cada ano.[2]

A “transparência”, conforme usada na ciência, na engenharia, nos negócios, nas relações humanas e outros contextos sociais, opera de maneira a permitir que os outros vejam fácil e claramente quais ações são executadas. Gaventa e McGee (2013) definem “transparência” como a facilidade de obter acesso à informação.[3] No entanto, a transparência não produz responsabilidade de maneira automática.

“Responsabilidade” é a natureza ou a condição de responsável. Alguém que é responsável não se exime de prestar contas perante alguém ou perante um grupo pelas ações tomadas, sendo capaz de explicar, esclarecer e justificar suas ações.

As organizações que compartilham informações de maneira aberta com as partes interessadas promovem uma cultura de confiança, comunicação e responsabilidade social. Mesmo ao lidar com assuntos confidenciais, é preciso haver transparência quanto ao motivo pelo qual certas informações são restritas. Se as organizações seculares se beneficiam do exercício da abertura e da responsabilidade, tanto mais a igreja adventista local.

Em um estudo conduzido por Petr Cincala, Rene Drumm e Duane McBride (2016) a pedido do Escritório de Arquivos, Estatísticas e Pesquisas da Conferência Geral (ASTR, na sigla em inglês) e da Divisão Norte-Americana, 872 membros de igrejas norte-americanas foram pesquisados quanto ao padrão de suas doações para a Missão Mundial. A primeira razão citada como um obstáculo para doar foi “uma desconfiança crescente, ou falta de compreensão, sobre como os fundos são administrados”. Outras razões foram “preferência por doações locais, percepção de falta de comunicação sobre as missões e escassez de fundos pessoais”. Por mais desfavoráveis que as respostas possam parecer, os participantes do estudo afirmaram que “conhecer detalhes sobre para onde está indo seu dinheiro” ajudaria a aumentar a transparência.[4]

Abaixo estão alguns conceitos que descobri no evangelho de Mateus que ajudam a estabelecer transparência e responsabilidade:

1. Apoiar a igreja local com meus dízimos e ofertas e não ter dívidas pessoais são maneiras de dar bons exemplos para os membros seguirem. “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Nem se acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto, mas num lugar adequado onde ilumina bem todos os que estão na casa. Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus.” (Mt 5:14–16). Ver também a página 137 do Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2015).

2. Promover o amor e o sacrifício de Deus diante dos membros da igreja e, em seguida, apresentar as necessidades da igreja como oportunidades para eles expressarem, em troca, seu amor e gratidão (Rees 1995).[5] “Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6:21).

3. Proteger os recursos da igreja, investindo-o sabiamente e gastando-o criteriosamente, aumenta a confiança dos membros de que o dinheiro está sendo bem cuidado. “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha” (Mt 7:24, 25).

5. Apresentar relatórios sobre a posição financeira da igreja de forma oportuna, clara e completa inspira confiança nos membros. Realizar regularmente reuniões de negócios da igreja onde o tesoureiro apresenta a situação financeira da igreja e permite que os membros reajam a ela é um bom método de manter a igreja informada. A emissão imediata de recibos aos membros por suas contribuições é outra maneira. Uma excelente maneira de informar a igreja local como suas contribuições são usadas globalmente é mostrar os vídeos das Missões Adventista (disponíveis em www.adventistmission.org) e os relatórios da Rádio Mundial Adventista (disponíveis em https://awr.org/videos), apenas para citar alguns que achei informativos. “A árvore boa não pode produzir frutos maus, e a árvore má não pode produzir frutos bons. [...] Assim, pois, pelos seus frutos vocês os conhecerão” (Mt 7:18–20).

6. A realização regular de auditorias financeiras, da membresia e de conformidade operacional garante aos membros que os relatórios apresentados são verdadeiros. “Que a palavra de vocês seja: Sim, sim; não, não. O que passar disto vem do Maligno (Mt 5:37). Veja também a página 141 do Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia (2015).

7. Alcançar metas e objetivos dentro dos prazos estabelecidos, de acordo com o plano e dentro do orçamento, inspira os membros a doarem novamente. A maioria das pessoas é atraída quando se trata de apoiar empreendimentos de sucesso. “Por causa da pequenez da fé que vocês têm. Pois em verdade lhes digo que, se tiverem fé como um grão de mostarda, dirão a este monte: “Mude-se daqui para lá”, e ele se mudará. Nada lhes será impossível” (Mt 17:20).

Os pontos apresentados acima são maneiras práticas que encontrei para mostrar transparência aos membros e prestar contas a Deus e aos que estão acima de mim. No entanto, a utilização de variadas abordagens para promover a transparência e a responsabilidade reflete, por si só, o grau em que a transparência e a responsabilidade são percebidas. Abaixo estão três técnicas que podem ser usadas para medir isso:

1. Avalie qualitativamente as mudanças ocorridas nas contribuições dos membros, uma vez que a transparência e a responsabilidade se correlacionam positivamente com a confiança (Penn 2017).[6] As pessoas contribuirão para programas nos quais tenham confiança. “E não somente fizeram como nós esperávamos, mas, pela vontade de Deus, deram a si mesmos, primeiro ao Senhor, depois a nós” (2Co 8:5).

2. Lance uma campanha para promover a transparência e a responsabilidade e, depois, realize uma pesquisa quantitativa dos membros para avaliar suas atitudes em relação às doações. “Provem os espíritos para ver se procedem de Deus” (1Jo 4:1,).

3. Estabeleça metas de doação e acompanhe a evolução dos números. Faça as alterações necessárias. “Outra [semente], enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um” (Mt 13:8).

Quando Deus disse: “Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16), Ele estava nos chamando para sermos transparentes e responsáveis

1. Na frequência das nossas atividades (“Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros”, isto é, toda a humanidade);

2. Na qualidade das nossas atividades (“Para que vejam as boas obras que vocês fazem”);

3. No impacto das nossas atividades (“Glorifique o Pai de vocês, que está no céu”).

O ponto principal é que, se quisermos que nossos membros cresçam espiritualmente, devemos criar mais transparência e responsabilidade, compartilhando muitas informações importantes com eles de forma proativa, garantindo que elas sejam compreendidas e permitindo que os membros forneçam feedback. Somente quando se sentirem parte do progresso da igreja é que eles a apoiarão com maior entusiasmo.

Delbert Pearman, MBA, atua como vice-presidente de finanças da Rádio Mundial Adventista. Anteriormente, ele serviu como Tesoureiro Associado da Associação Geral, Diretor de Planejamento para a Missão Adventista e Tesoureiro de várias entidades da igreja ao redor do mundo. Delbert é Ministro Ordenado e gosta de missões transculturais, de música coral e de jogar futebol.


[1] Catherine Ellwood. “Building Trust through Transparency,” The Myers-Briggs Company, 25 Março 2020. <a href=".

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[2] Archives, Statistics, and Research. Annual Statistical Report, v. 2 (Silver Spring, MD: Office of Archives, Statistics, and Research), https://documents.adventistarchives.org/Statistics....

[3] John Gaventa e Rosemary McGee, “The Impact of Transparency and Accountability Initiatives,” Development Policy Review 31 (2013): 3–28.

[4] Archives, Statistics, and Research. “Barriers to Giving,” Office of Archives, Statistics, and Research, 18 Set 2018, https://www.adventistresearch.info/barriers-giving....

[5] Mel Rees, Biblical Principles for Living and Giving (Hagerstown: Review and Herald Pub. Assn., 1995).

[6] Christopher S. Penn, “Transparency is the Currency of Trust,” Awaken Your Superhero, 5 Out 2017, https://www.christopherspenn.com/2017/10/transpare...;

Delbert Pearman

Delbert Pearman, MBA, atua como vice-presidente de finanças da Rádio Mundial Adventista. Anteriormente, serviu como Tesoureiro Associado da Associação Geral, Diretor de Planejamento da Missão Adventista e Tesoureiro de várias entidades da igreja em todo o mundo. Ministro Ordenado, Delbert gosta de missões interculturais, música coral e de jogar futebol.